Brasília, 16 de agosto de 1999.
ANISTIA 20 ANOS
Há
20 anos o Brasil reconciliou-se consigo mesmo, ao conquistar para os seus filhos
a anistia política. Foi no dia 28 de agosto de 1979, quando da sanção da Lei
de Anistia que resgatou a cidadania de milhares de brasileiros exilados, presos,
torturados e perseguidos pela ditadura surgida com o golpe militar de 1964.
A reparação dessa injustiça trouxe de volta à pátria aqueles que
sonharam e lutaram por um Brasil mais justo, livre e soberano. Políticos
tiveram seus direitos cassados, a imprensa e a cultura foram censuradas, os
serviços de informação do regime de exceção investigava a vida de todos que
pudessem ameaçar a sua hegemonia, militantes políticos eram assassinados nos
porões da ditadura, intelectuais e
jovens eram impedidos de exercer minimamente a sua liberdade de expressão –
como estudante universitário participei em 1968 da famosa Passeata dos
100 Mil no Rio de Janeiro -, muitos partiram para a clandestinidade e para a
luta armada como forma de enfrentar o governo militar.
O
Brasil viveu o período mais repressor de sua história. Mesmo que isso tenha
sido superado em 1984 com a redemocratização
do país, não podemos deixar de lembrar os fatos da época, até porque muitos
não foram plenamente beneficiados
e a maioria da Nação, particularmente a juventude, não viveu aqueles tempos
que nos dividiu em “bons” e “maus”; para estes sobravam a perseguição,
a prisão, a tortura, a dor, a mutilação, a morte.
Em
todo o país estão sendo promovidas atividades políticas, culturais e
educativas para lembrar aquela data, comemorar aquela conquista, homenagear
aqueles que se empenharam na luta pela anistia e informar aos que não viveram
aqueles tempos, particularmente os jovens. Em Brasília, neste mês, estão
agendados, entre outros, dois eventos significativos: o primeiro no próximo dia
18, às 14h30, quando ocorrerá no Senado Federal, por requerimento do senador
Roberto Freire, uma sessão especial comemorativa dos 20 Anos da Anistia. No próximo
dia 19, às 16 horas, será igualmente realizada uma sessão solene na Câmara
Legislativa do Distrito Federal, por iniciativa do deputado distrital Chico
Floresta. Nesse último evento será também prestada homenagem à memória do
sociólogo Herbert de Souza – Betinho –, falecido em 09 de agosto de 1997,
cuja volta ao Brasil depois do exílio, beneficiado com a anistia política, foi
comemorada e cantada em “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir
Blanc. No Brasil, depois disso, Betinho se notabilizou por mobilizar o país
inteiro em torno da campanha contra a fome
e a miséria e pela vida, numa cruzada nacional da Ação da Cidadania.
Como lembrou Frei Beto em artigo recente no Correio da Cidadania, em 10 de agosto de 1974 morria, em Paris, Frei Tito, enforcado, atormentado em decorrência das torturas sofridas no Brasil – pau-de-arara, cadeira-do-dragão, choques elétricos, pauladas, palmatória, corredor polonês; o fizeram abrir a boca “para receber a hóstia sagrada” – descargas elétricas na boca. O capitão Beroni de Arruda Albernaz vaticinou: “Se não falar, será quebrado por dentro . . . se sobreviver, jamais esquecerá o preço de sua valentia.” A ceder e viver, Tito preferiu morrer. “É preferível morrer do que perder a vida”, escreveu.
Osvaldo Russo
Presidente da ONG Opção Cidadania