Anistiados
cobram justiça na aposentadoria
Depois de muita pressão, o
presidente Fernando Henrique determinou que seja formada uma comissão para
analisar a lei que trata da aposentadoria especial dos anistiados políticos que
vieram a Brasília cobrar seus direitos suprimidos durante a gestão de FHC.
Eles aproveitaram o I Encontro Nacional em Defesa da Anistia, ocorrido na sede
da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio (CNTC), para elaborar
um documento contendo suas reivindicações e entregue ao presidente, a
deputados e senadores. A peregrinação deu resultado.
“Consideramos essa
determinação do presidente Fernando Henrique como uma vitória, mas
continuamos vigilantes para ter de volta nossas conquistas”, avisa Ricardo
Zerattini Filho, coordenador do Encontro. Durante o evento, anistiados de todo
país mostraram à opinião pública as conquistas que foram suprimidas durante
os cinco anos de gestão Fernando Henrique. O atual governo, apontaram eles, é
o que mais apresenta descaso com os anistiados. E uma das provas disso é a
grande quantidade de processos de anistia que está abarrotando as gavetas dos
ministérios, sem nenhuma solução.
Os números comprovam a
lentidão no julgamento desses processos. Dados levantados pela Associação
Brasileira dos Anistiados Políticos (ABAP) apontam que, durante o governo
Fernando Henrique, foram concluídas apenas 60 processos, enquanto que no
governo anterior, o de Itamar Franco, foram deferidos quase 900 processos.
“Existem três mil pessoas que aguardam essa decisão”, aponta o presidente
da ABAP, Carlos Fernandes. Ele explica que, nos governos anteriores, apenas o
Ministério do Trabalho tinha a competência de julgar os processos, mas
Fernando Henrique instituiu um decreto – de número 2.172/97 – determinando
que os processos fossem distribuídos a todos os ministérios, daí o acúmulo.
“O governo usou um cinismo
sem tamanho para justificar essa medida. Disse que distribuiria os processos
para apresentar o julgamento dos mesmos, mas ocorreu exatamente o contrário”,
critica Carlos Fernandes. Os ministérios, lembra ele, só despacham os
processos a pedido do Planalto.
“Enquanto isso, anistiados
que foram presos, torturados, velhos e doentes, não têm seus direitos
respeitados”, acrescenta Fernandes.
Durante o governo Fernando
Henrique, os anistiados viram suas aposentadorias encolher. “O INSS criou
grupos para rever as aposentadorias, mas só que foram utilizados cálculos
estranhos e nós acabamos perdendo com isso. Temos casos de pessoas que perderam
todo o benefício”, aponta Fernandes. Ele lembra que, com isso, o governo está
desrespeitando as instâncias superiores da Justiça que já decidiram que redução
nominal de salários e proventos é inconstitucional.
O pior de tudo é que o
sacrifício e o sofrimento que o governo está impondo aos anistiados representa
uma “economia de palitos”, segundo o documento, pelo seguinte motivo: a União
desembolsa cerca de R$ 6 milhões com as 3.136 aposentadoria e pensões pagas,
valor que representa 0,13% das despesas da Previdência Social. Segundo o
Dataprev, os anistiados têm renda mensal média de aproximadamente R$ 1.700. A
redução para a maioria desses benefícios fica entre 30% e 40%, estimando-se
uma redução das despesas em torno de R$ 2 milhões.
Na prática, isso representa
um outro tipo de tortura para os anistiados, talvez tão dolorosa quanto aquelas
que aconteciam nos porões da ditadura. “Pessoas com idade avançada, com câncer
e outros males, estão tendo que se preocupar com redução de salários. Isso
é um absurdo”, lembrou Zerattini. Durante o encontro na CNTC, as pessoas
puderam falar sobre o drama que estão vivendo com essa revisão no cálculo das
aposentadorias. Teve gente que apresentou extratos bancários mostrando
vencimentos que não chegam a R$ 300 por mês.