A anistia

Haroldo Lima (*)

 

Quando os dirigentes do PC do B, presos em 1976, na chamada "Chacina da Lapa", chegamos ao Presídio Político de São Paulo, como era chamado o Presídio do Barro Branco, tivemos uma surpresa: a maior parte dos presos políticos que lá estavam não apoiava a luta pela anistia! Prevalecia a interpretação de ser a anistia uma espécie de clemência que se pedia ao regime militar. O pessoal do PC do B, entre os quais dois que se tornaram deputados federais, eu e Aldo Arantes, sustentamos ponto de vista diferente. Isto, e as reflexões individuais que a vida promovia em cada um, foi alterando a postura dos presos sobre o assunto. Quando, em 1979, Teotônio Vilela peregrinou por todos os presídios políticos do país, na defesa da anistia, foi recebido em todos com respeito e entusiasmo.

Os fatos posteriores comprovaram o que experiências já haviam ensinado: a anistia é uma reparação de injustiças realizadas, não é um pedido de clemência, mas exigência do injustiçado ao poder imperante. E só saiu, no caso concreto brasileiro, depois de muita e extensa luta. Ainda assim, de forma parcial e truncada. Nem todos os perseguidos foram anistiados, todos os torturadores o foram.

De qualquer forma, a anistia descontraiu a cena política brasileira. Foi um incentivo à união de nosso povo. Nenhum anistiado revelou-se perigoso para a Nação, pelo contrário, mostram-se patriotas e democratas.

A anistia que comemoraremos, homenageando os anistiados, os que fizeram a campanha pela anistia e os que, no Parlamento, empenharam-se por ela, deve servir para revitalizar a união de nosso povo na busca dos ideais de liberdade e desenvolvimento com independência de nosso país.

(*) Haroldo Lima é deputado federal pelo PCdoB da Bahia e exerce seu quinto mandato na Câmara dos Deputados. É membro do Comitê Central e da Comissão Política do PCdoB. Foi preso pela ditadura em 1976 e só saiu da prisão após a Anistia, em 1979.