Reintegração com terapia

Nos últimos meses do século XXI, a pena aplicada pela Justiça Militar a Carlos Alberto Soares, hoje com 56 anos, é motivo de piada: por participar de uma organização que defendia a luta armada, o PCBR, ele foi condenado a duas prisões perpétuas e mais 55 anos de cadeia. Depois de passar quatro anos na Casa de Detenção e outros três na Penitenciária Barreto Campelo, conseguiu transferência para São Paulo, onde sua mulher Rosa trabalhava como médica. "Saí da cadeia em liberdade condicional em dezembro de 1979, mas não fui anistiado porque tinha feito assaltos a bancos", conta Carlos Alberto.

Os anos na prisão e o fato de ser libertado numa cidade que não conhecia deixaram traumas em Carlos Alberto: "Passei um bom tempo vendo e observando as coisas ao meu redor com a sensação quase física de que aquele espaço não me incluía. Foram necessários dois anos de terapia para que eu conseguisse me integrar à vida, aos espaços", afirma. Libertado, foi trabalhar na Hidrobrasileira, empresa de Sérgio Motta (ministro das Comunicações do governo de Fernando Henrique Cardoso, morto em 1998). O projeto de retomar a faculdade de Geologia ficou arquivado por falta de condições emocionais.

Só aos 42 anos, conseguiu voltar à faculdade, mas desistiu de Geologia e apostou tudo na Sociologia, trabalhando na Prefeitura de Diadema e Secretaria de Habitação de São Paulo. Há dois anos, separado, voltou sozinho ao Recife para trabalhar na Secretaria Municipal de Políticas Públicas ao lado do seu ex-colega de prisão, Francisco de Assis. (I.F.)

 

Matéria do jornal O Diário de Pernambuco – 28/09/99.