Ação política nas ONGs

 

Quando voltou ao Brasil em 1979, Vando Miranda Nogueira, 50 anos, percebeu que não precisava filiar-se a um partido político para, como na juventude, manter vivo o sonho de mudar o mundo. De Genebra, na Suíça, onde especializou-se em Políticas de Desenvolvimento foi direto para Afogados da Ingazeira, no sertão do Pajeú, onde dedicou-se à criação do Centro de Formação de Trabalhadores Rurais, a primeira ONG no Interior de Pernambuco. "A idéia era identificar e preparar novas lideranças do movimento camponês, mas logo a entidade mudou de rumo e voltei para o Recife".

Decepcionado com sua experiência no Interior, foi articular o grupo sindical no Centro Josué de Castro, para o qual já havia sido convidado assim que desembarcou. Depois de 11 anos de trabalho na mais antiga ONG pernambucana, ele passou a coordenar o Centro Luís Freire e foi um dos fundadores da Associação Brasileira das ONGs, a Abong, que dirigiu durante anos. "Deixei essas entidades e estou tentando iniciar uma carreira solo de consultor, ministrando aulas em cursos e fazendo palestras de planejamento estratégico", explica.

Respeitado entre os profissionais de entidades não-governamentais e de órgãos como o Unicef, Vando gosta de lembrar das cenas de comédia que marcaram sua fuga do Recife, onde já tinha passado um ano e dois meses na cadeia. "Fui condenado de novo. Como não gostei da primeira hospedagem, tratei de ir embora". A primeira parte do caminho para o Rio Grande do Sul, de onde seguiria rumo ao Chile democrático de Salvador Allende, foi feito num Fusquinha com cinco pessoas: "Nem tínhamos passado de Maceió, quando o carro virou. Peguei carona num caminhão até Feira de Santana e fomos trocando de ônibus até Porto Alegre". (I.F.)

 

Matéria do jornal O Diário de Pernambuco – 28/09/99.