Vivendo de
artesanato
De pele muito
branca, alto e com sotaque do interior paulista, Luís Momesso poderia ser
qualquer coisa, menos operário nordestino. Por isso, sua missão de infiltrar-se
nas fábricas do Recife foi abortada e ele foi deslocado pela Ação Popular (AP)
para o Interior do Ceará. Mas, nos poucos meses no Recife, ele conheceu Socorro
Abreu e Lima, a mulher de sua vida. Preso no Ceará, acabou sendo levado para
São Paulo, escoltado por Sérgio Fleury em pessoa, o mais famoso carrasco da
polícia paulista. "Pensaram que eu estava envolvido com assaltos a bancos.
Por isso, fui muito torturado. Eu sabia muitas coisas, mas não falei
absolutamente nada", assegura Luís.
COMUNICAÇÃO -
"Libertado em 1971, mudou-se para o Recife, onde o casal se manteve
confeccionando e vendendo cintos de couro. Sobrevivendo às custas do
artesanato, retornaram à capital paulista, onde ele fazia cintos e sandálias
para que Socorro pudesse estudar. Quando ela se formou, inverteram os papéis: a
mulher trabalhava para que Luís fizesse o curso supletivo e, em seguida, a
faculdade de Jornalismo.”
O fim do sonho da revolução
socialista coincidiu com o sucesso profissional do casal. Socorro ensinava e
elaborava sua tese de mestrado. Ele fazia carreira no jornalismo sindical e um
mestrado. "Mas, se não ia ter revolução, não havia razão para ficarmos no
centro do operariado brasileiro, então porque não pegar uma praia no
Nordeste?", sintetiza Socorro, com fina ironia. Em 1991, a família vem
morar definitivamente numa rua tranqüila do bairro do Ipsep. Hoje, aos 56 anos,
Luís é professor no departamento de Comunicação da UFPE e Socorro, que tem a
mesma idade do marido, prepara sua tese de doutorado em História. (I.F.)
Matéria do jornal O Diário
de Pernambuco – 28/09/99.