À espera da
aposentadoria
É difícil
surpreender um sorriso no rosto de João Zeferino da Silva, ou simplesmente
Joca. Sempre sério e com ar triste permanente, esse ex-estudante que se engajou
nas lutas pela reforma agrária na década de 60 tem inúmeras queixas contra os
políticos que "se dizem de esquerda". Arraes é seu alvo preferencial:
"Foi governador duas vezes e nunca nos ajudou. Aliás, no primeiro governo
mandou prender as lideranças camponesas na Casa de Detenção, onde hoje é a Casa
da Cultura".
Aos 55 anos,
Joca se define como um homem de ação, capaz de seqüestrar um militar em
Barreiros, em 1963, para exigir a liberdade da liderança Júlio Santana, um
comunista da linha trotskista que tentou iniciar uma guerrilha no Nordeste.
Depois do golpe militar, escondeu-se no Rio de Janeiro e acabou indo fazer
treinamento para guerrilha em Cuba. Sem condições de voltar ao Brasil, deixou
as armas de lado e foi lavar pratos e carregar malas na Suécia, país que lhe
concedeu asilo e, apesar do frio, uma vida agradável.
SOCIOLOGIA – Trocou a Suécia
pelo Brasil junto com a esposa chilena e um filho de um ano. A vida piorou. Sem
dinheiro, a mulher mudou-se para o Chile para poder criar o filho. "Faz 19
anos que não vejo o menino. Sei que agora ele está fazendo Sociologia",
diz com orgulho. Sem profissão definida - pichar muros, distribuir panfletos e
participar de reuniões partidárias foram suas únicas atividades na juventude -,
trabalhou como auxiliar de parlamentares. Despejado da quitinete onde morava,
foi morar de favor na casa de uma irmã e "agora, estou esperando a
aposentadoria especial". (I.F.)
Matéria do jornal O Diário
de Pernambuco – 28/09/99.