Com as
malas prontas para voltar
Os exilados buscavam manter-se
ligados aos fatos do País. Vínculo como esse levou o engenheiro Bruno Maranhão
a estar pronto para deixar Paris e desembarcar no aeroporto dos Guararapes um dia
depois da sanção da Lei da Anistia
Tereza Rozowykwiat
Da equipe do DIARIO
Eles enfrentaram
um trabalho duro, situações familiares difíceis, a interrupção de suas
atividades políticas e profissionais e a saudade do Brasil. A anistia, a
princípio um sonho remoto, foi, aos poucos, se transformando para os exilados
brasileiros espalhados pelo mundo, numa idéia possível de ser realizada.
Quando, enfim, a lei foi assinada, muitos já estavam com as malas prontas para
voltar, diante da certeza de que o processo de redemocratização estava
avançando e que a abertura era inevitável.
Os primeiros
anistiados pernambucanos a pisarem no aeroporto dos Guararapes foram o
engenheiro Bruno Maranhão e sua mulher, a socióloga Suzana Brito. Eles
desembarcaram às 4h do dia seguinte à assinatura da lei. Até aquele momento, um
longo caminho havia sido percorrido. Militantes do PCBR, saíram
clandestinamente do País e passaram à condição de exilados, no Chile, em 1972.
Suzana estava grávida de sete meses. Um ano depois eram surpreendidos pelo
golpe que derrubou o presidente Allende. "Ficamos dezesseis
diasclandestinos no Chile e foi muito pior do que a clandestinidade no Brasil
porque existia uma perseguição muito forte aos estrangeiros e tínhamos uma
criança pequena", explica Bruno.
CLANDESTINIDADE
- Conseguiram sair do Chile pela embaixada da Argélia e radicaram-se em
Paris, onde nasceu o filho Mário. Voltou clandestinamente ao Brasil duas vezes,
mas sem autorização do PCBR para vir a Pernambuco, onde era muito conhecido e
correria risco de prisão. Vinte anos depois, Bruno Maranhão e Suzana Brito
continuam na luta política, trabalhando no Movimento de Libertação dos Sem
Terra e no Instituto de Estudos Políticos Mário Alves, destinado à capacitação
marxista.
Também na
política continua o ex-exilado Maurílio Ferreira Lima. Ele retornou da Argélia,
onde residia desde o início de 1969, no dia 12 de setembro, sendo recebido, em
Limoeiro, com um grande comício. Maurílio deixou o Brasil logo depois do AI-5.
Havia denunciado o caso Para-Sar, isto é, o envolvimento de militares num plano
para extermínio de presos políticos, o que terminou funcionando como o estopim
do AI-5. Era deputado federal, eleito pelo MDB. Escolheu a Argélia por não ser
um país comunista. "Não queria que me carimbassem politicamente, porque eu
não era ligado à luta armada", explicou.
Ao contrário de
Bruno e Maurílio, o economista Sérgio Buarque, exilado no Chile e depois na
Alemanha, voltou ao País quatro meses antes da anistia, arriscando a prisão no
aeroporto. O pai encontrava-se gravemente doente e em função disso, Buarque
passou um mês no Brasil. Quando desembarcou, em abril, a Polícia Federal o
esperava no aeroporto, foi interrogado, mas terminou sendo liberado porque
havia ingressado na Justiça para pedir a prescrição da sua pena.
Sérgio Buarque
tinha participado do movimento estudantil e em 1969 foi cassado pelo 477.
Pertencia ao Partido Trotskista. Foi preso em 1970, sendo condenado a um ano.
Já solto, teve a pena ampliada pelo Superior Tribunal Militar e decidiu fugir
do País, radicando-se no Chile, juntamente com a mulher, Cristina. Ele separa o
exílio em dois momentos: a etapa do Chile, onde passou por graves problemas
financeiros, mas viveu situações afetivas e políticas muito gratificantes, e a
fase da Alemanha, quando materialmente conseguiu estabilidade, mas
existencialmente enfrentou situações difíceis.
Matéria do jornal O Diário
de Pernambuco – 28/09/99.