Em cartaz, os fazedores de História

Vinte anos se passaram desde a aprovação da Lei da Anistia. Muitos brasileiros foram perseguidos, tiveram de optar pelo exílio, foram presos e torturados. Vários morreram. Mas conseguiram oferecer às gerações futuras um Brasil melhor. Desde a edição de maio, o Jornal da Cidadania vem publicando artigos sobre o tema. Você vai conhecer mais sobre esse período através do relato de quem participou e da descrição dos fatos passo a passo.

 

Desde o início do ano o Instituto Teotônio Vilela, em Brasília, vem articulando parcerias para organizar uma agenda de eventos de comemoração ao aniversário da Anistia, aprovada no dia 18 de agosto de 1979. O pontapé inicial aconteceu em Fortaleza, em junho, durante o Festival Cine Ceará. O documentário O Evangelho segundo Teotônio, de Vladimir Carvalho, conta a história de Teotônio Vilela e sua luta para libertar presos políticos.

O filme foi produzido em 1984. Na exibição, a platéia era basicamente de jovens e o retorno foi surpreendente. “Essa nova geração desconhece esta luta. Foi ótimo para eles descobrirem o processo de redemocratização”, ressalta Vladimir. O documentário pode ser utilizado em encontros, congressos e seminários. Quem estiver interessado pode ligar para a Fundação Cinemania.

Na Universidade Federal do Acre (UFA), aconteceu no dia 19 o seminário 20 anos de Anistia. Os participantes, entre eles representantes da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, da Comissão de Direitos Humanos da Diocese de Rio Branco e parlamentares, fizeram um balanço da Lei da Anistia.

Por iniciativa do senador Roberto Freire (PPS/PE), um dos relatores da Lei da Anistia, aconteceu uma sessão especial no plenário do Senado Federal, no dia 18 de agosto. No mesmo dia, uma exposição de fotos e publicações foi inaugurada no Salão Verde do Senado. Até o dia 28 estarão à disposição do público livros, revistas, jornais, charges e outros documentos ilustrativos do período. Também acaba de sair do forno a reedição do livro Anistia, em dois volumes. Organizado e apresentado pelo senador Freire em 1978, trata-se de um documentário sobre esse momento histórico.

Como parte das homenagens, a Empresa de Correios e Telégrafos disponibiliza para o público um selo comemorativo a partir do dia 20 de agosto. O trabalho foi idealizado pelo artista gráfico Elifas Andreato.

Com a palavra, os anistiados

Haroldo Lima, PC do B

“Sou o único parlamentar brasileiro que estava preso no dia da Anistia e foi solto em decorrência dela. Preso em 1976, torturado no Dói-Codi do Rio, fui condenado a 10 anos de prisão. Ao saber pela televisão, em uma cela do Presídio Lemos de Brito, em Salvador, da aprovação da lei, um grito incontido saiu-me do peito, saudando a liberdade conquistada.”

José Genuíno, PT

“Essa é uma data importante que permite resgatar a luta pela democracia do Brasil. Mas também chama a atenção para o processo em que ela se deu, que não foi amplo e profundo, como deveria. A própria lei é limitada, não é plenamente democrática. Porém a sua marca foi ter sido uma luta que nasceu da sociedade para o Estado.”

Cristóvam Buarque, PT, ex-governador do Distrito Federal

“Conheci e convivi com o drama humano de muitos brasileiros no exílio. Foram expulsos de sua pátria porque lutavam contra o analfabetismo, a miséria e a fome, pela reforma agrária, por justiça social. A Anistia trouxe-os de volta e reforçou a esperança de podermos realizar nossos sonhos.”

Ivônio Barros Nunes, consultor do Ibase, diretor da Intelecto – Consultoria, Estudos e Projetos

“A Anistia não foi um ato de bondade do governo. Foi uma conquista. Muitos dos anistiados ainda não tiveram seus direitos reconhecidos. Respeita-los é uma forma de respeitar a decisão da sociedade pela democracia. Impedir que torturadores venham a se beneficiar de cargos públicos e promoções também é respeitar a memória do povo.”

João Gilberto Lucas Coelho, membro da comissão mista que examinou a Lei da Anistia

“A Anistia foi um marco. Sua trajetória ainda está por ser escrita. Foi garantia da transição à democracia. A seqüência é de nossa responsabilidade. Porém, o opositor hoje não corre o risco de ir para prisão, ser torturado ou deportado. Ele está na mesa, debatendo.”

Senador Lúcio Alcântara, PSDB, presidente do Instituto Teotônio Vilela

“A Anistia deu uma orientação ética à nossa política. Recentemente, o reconhecimento da participação do Estado nos crimes contra brasileiros foi outro passo à consolidação da democracia.”

Miguel Arraes, PSDB, ex-governador de Pernambuco

“A Anistia brasileira teve uma abrangência maior que a conquista por outras nações latino-americanas. Foram devolvidos direitos políticos usurpados, convocadas eleições. Claro que nem tudo foi simples. Os que se beneficiaram da política da ditadura viabilizaram um projeto de poder do qual é resultado a realidade social em que estamos mergulhados.”

Rabino Henry Sobel, presidente da Congregação Israelita Paulista

“O 20º aniversário da Lei da Anistia nos lembra que há muitos problemas mal resolvidos no Brasil. O cenário mudou, as vítimas são outras, mas a violação dos direitos humanos persiste.”

Fundação Cinemania: (61) 225-8680.

Instituto Teotônio Vilela: (61) 321-3363

Jornal da Cidadania - agosto de 1999.