Recife provoca discussão

por PAULO SÉRGIO SCARPA

 

Em 1971, políticos do MDB pernambucano começaram a discutir a possibilidade de uma anistia. A idéia foi importada do 6º Congresso do PCB, na clandestinidade, em 67, lembra o senador Roberto Freire (PPS), na época no MDB por causa do bipartidarismo. O PCB, quatro anos antes, já discutia a formação uma frente democrática, de luta pela anistia, Constituinte e eleições diretas.

Mas o interessante era que, em 71, alguns pernabucanos pregavam a auto-dissolução do MDB por causa da vitória da Arena, em 70. Mas a discussão sobre a anistia venceu, com Jarbas Vasconcelos, Fernando Lyra, Roberto Freire e muitos outros. "Outras teses não vingaram. Mas a anistia começou a ser possível. E Pernambuco provocou a discussão no MDB, mesmo com a rejeição de alguns", diz Freire. E, disso tudo, nasceu o grupo dos "autênticos" e o primeiro movimento organizado pela anistia: o grupo de mulheres liderado por Terezinha Zerbini, em São Paulo. "O MDB começou a deixar de ser o partido do Sim e passou a ser um partido da resistência".

O ano de 74 provocaria, ainda, a primeira derrota da ditadura com a crise do petróleo, analisa Freire. Além da derrota da Arena nas eleições. Foi quando o general Ernesto Geisel armou a estrutura do voto vinculado, sublegenda e uma série de casuísmos para deter o avanço da oposição.

"Já com o general João Figueiredo na presidência foi criada uma comissão mista no Congresso para analisar o projeto de anistia do Executivo. Na presidência, o senador Teotônio Vilela (MDB-AL), na relatoria, o deputado Ernane Sátiro (Arena-PB). Freire era o único pernambucano na comissão. Foi quando o deputado Djalma Marin (Arena-RN) apresentou emenda propondo anistia ampla, geral e irrestrita. "Essa era a emenda para a grande votação que todos tínhamos que trabalhar", defendia Freire.

"Como líder do MDB, Freire propôs então a retirada de todas as emendas anteriores à de Marin para não correr o risco de ser derrotada pelo voto de liderança. "E eu consegui isso", lembra-se com emoção. "Mas perdemos apenas por quatro votos, mas com o apoio de arenistas". Freire lembra-se particularmente do voto de um arenista, o do hoje senador Carlos Wilson, a quem foi abraçar. "Foi a anistia possível, mas foi também o primeiro passo para a derrocada da ditadura cinco anos depois".

 

Matéria do Jornal do Commercio - 29/09/99.