15/08/99

1979

Lutando pra fazer arte

Cesar Teixeira

O ano de 1979, marcado pela campanha Pró-Anistia e pela Greve da Meia Passagem, também se caracterizou pela mobilização dos artistas de São Luís, que participaram de todas as lutas, discutindo propostas e apresentando espetáculos de teatro e música, além de exposições de artes plásticas. A categoria também sofria as investidas da censura federal e a discriminação do Estado, que, como hoje, não possuía uma política cultural que atendesse aos seus interesses, além de não respeitar o direito constitucional do cidadão à informação e à cultura.

Um dos fatos memoráveis, que demonstrou o grau de mobilização dos artistas diante da discriminação até mesmo do modo de se vestirem, em 31 de junho de 79, foi o piquete na porta do Teatro Arthur Azevedo, onde seria apresentada uma montagem do Poema Sujo, de Ferreira Gullar, pelo grupo Luz Acesa, do Rio de Janeiro, que também participou das manifestações ao lado de integrantes do Laborarte, parlamentares, membros dos diretórios da UFMA e das FESM, entre outros.

Com faixas e cartazes, ocupando a frente do teatro, músicos, atores, artistas plásticos, cinegrafistas e bailarinos, apoiados por movimentos populares, se propunham a derrubar o diretor do TAA, o colunista social Pergentino Holanda, que proibia a entrada de pessoas “mal vestidas”, de camiseta ou calçando chinelos, para assistir aos espetáculos naquela casa. Dias depois foi realizada uma nova manifestação na Fonte do Ribeirão, com música e teatro, tendo a presença do Bispo do Araguaia, D. Pedro Casaldáliga, de passagem em São Luís a convite da SMDH.

Os protestos deram certo, e o diretor foi demitido pelo governador João Castelo, o mesmo que mandou a polícia bater nos estudantes durante a greve pela Meia-Passagem.

Nesse mesmo ano, houve um crescimento na produção cinematográfica em São Luís, sobretudo em Super-8, com a realização de festivais e jornadas de cinema, tendo vários filmes locais conquistado prêmios fora do estado, destacando-se os diretores Euclides Moreira Neto e Murilo Santos. Foi também o ano da realização do I Festival Universitário de Música Popular Maranhense, prêmio arrebatado pela composição “Sentinela”, uma parceria de Cesar Teixeira e Godão, além de um concurso de cartuns sobre a anistia promovido pelo Comitê Brasileiro pela Anistia-MA em fins de julho, cujo vencedor foi o cartunista Beda, com argumento do compositor Escrete.

Os artistas, além de discutirem a programação com os coordenadores do CBA-MA, estiveram presentes no Dia Nacional de Luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, 14 de agosto, quando houve um ato público na Praça Deodoro da Fonseca, com discursos de Agenor Gomes (DCE/UFMA), do Sr. João Paulo (Diretório do MDB-Tirirical) e de Júlio Guterres (Movimento contra a Carestia), criticando a anistia pela metade do ditador João Figueiredo, que exorcizava os “terroristas”.

Entre os dias 13 e 14 de agosto, aconteceu o I Encontro de Artistas Plásticos Maranhenses, através do Departamento de Artes da UFMA, com apoio da PREXAE. Ainda em agosto, realizou-se a III Exposição Gororoba, movimento organizado pelo poeta Valdelino Césio e que naquele ano teve a mostra transferida para a galeria da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, já que o CENARTE, onde eram feitas as exposições do grupo, impedia o acesso do público deixando as portas quase sempre fechadas. Tema da exposição: o índio.

Festejos em São Luís

Para comemorar os vinte anos de anistia, foi organizado a nível nacional a Comissão Deliberativa dos Festejos da Anistia, por iniciativa do senador Roberto Freire (PPS/PE), com o apoio do Instituto Teotônio Vilela (DF), para que esta data não passasse em branco e a memória política da luta democrática se mantenha viva como uma chama, contra os restolhos de escuridão soprados pelos ventos da ditadura.

Em São Luís, várias instituições, partidos políticos de oposição, movimentos populares e entidades de classe uniram-se para realizar uma programação incluindo palestras e debates, bem como atividades culturais resgatando o que de melhor foi produzido em 1979, com a participação de artistas que contribuíram para que a campanha pela Anistia em nosso estado fosse bem sucedida.

No dia 18 de agosto a comissão organizadora dos festejos da Anistia em São Luís participou de uma sessão solene com Dom Evaristo Arns, Bispo Emérito de São Paulo, em homenagem aos mortos e anistiados pela ditadura, aproveitando a programação da I Semana dos Encarcerados, promovida pelo Fórum Permanente das Questões Carcerárias no Maranhão (FPCMA), que inclui entidades civis e religiosas.

Foi apresentado um espetáculo de poesia, teatro e música na Companhia Circense (Praia Grande) e no Laborarte (Centro), com a participação de  Joãozinho Ribeiro, Zezé da Flauta, Arlindo Carvalho, Escrete, Josias Sobrinho e Cesar Teixeira, bem como os atores e diretores Aldo Leite, Nélson Brito e Tácito Borralho, entre outros, tendo ainda a participação especial de Leda Nascimento e Domingos Tourinho.