A desidratação diarreica era a segunda principal cauda de morte de crianças no Brasil em 1980. No Nordeste, tirava a vida de mais de 29.000 crianças por ano (ou seja, 80 por dia: uma criança a cada 20 minutos). Em 1990, era a quarta causa, responsável por 14% das mortes infantis. Ao longo da última década, estima-se que mais de 250.000 mortes tenham sido evitadas, principalmente por causa do uso da TRO, o soro caseiro que começou a ser utilizado no mundo todo há mais de 25 anos. Em 1991, usava-se a TRO em 69% dos casos de diarréia, no Nordeste do Brasil. Ainda há muito a ser feito, mas o caso do Brasil demonstra claramente que o aumento do uso da TRO pode ter um impacto significativo na mortalidade infantil.

O uso da TRO continua em franca expansão. Estudos conduzidos em 1993 e 1994 em seis estados brasileiros indicam que seu uso aumentou entre 81% (Acre) e 91% ( Minas Gerais). A estratégia utilizada tem o apoio dos setores públicos e privados e estimula a participação da comunidade para tornar a TRO um hábito familiar. A Igreja Católica, as organizações não-governamentais, as associações comunitárias e o empresariado têm feito esforços individuais e coletivos para divulgar a mensagem sobre a TRO.

A mobilização social é um instrumento particularmente poderoso, que leva a informação até os indivíduos e comunidades para que eles próprios possam resolver os problemas, com o apoio de que necessitam. Esse processo aumenta a conscietização dos cidadãos sobre seu direito à saúde e lhes dá condições de exigir cuidados básicos de saúde e acesso aos serviços de saúde. O mais importante, porém, é que o intenso envolvimento da comunidade possibilita que haja avanços, mesmo na ocorrência de mudanças de lideranças políticas.

Os agentes comunitários de saúde (que são membros da comunidade treinados para informar seus vizinhos sobre os cuidados de saúde de caráter preventivo) também têm desempenhado um papel particularmente importante nessa estratégia, adotada em nível nacional pelo Ministério da Saúde com a finalidade de responder mais eficientemente às necessidades da população.

A construção de alianças maximizam o impacto das instituições que já atuam na área de saúde. A formação do Grupo de Defesa da Saúde da Criança, em 1987, juntou os recursos das mais importantes instituições brasileiras para formular uma política nacional da TRO, bem como promover uma estratégia de educação em saúde e comunicação. Os membros do Grupo são: a Pastoral da Criança da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Rede Globo, o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Propaganda, a OMS (Organização Mundial de Saúde) e o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

Ao reunir o trabalho interpessoal dos agentes comunitários e a cobertura da mídia nacional numa campanha nacional de comunicação sobre a TRO, foi possível divulgar mensagens sobre o combate à desidratação em todas as localidades do país. As famílias não só aprendem como prevenir e reduzir as conseqüências da desidratação em seus filhos, como também são sensibilizados e conscientizadas sobre os direitos da criança, inclusive o direito à saúde.

Finalmente, todos os esforços nacionais e locais têm sido apoiados por um sistema de monitoramento e avaliação. As Análises de Situação produzidas pelo UNICEF são uma importante ferramenta para identificar e resolver problemas, ao mesmo tempo em que as pesquisas domiciliares permitem a definição e o ajuste de metas e objetivos, o acompanhamento de programas e a efetiva incorporação dos avanços.

(1) Agop Kayayan - representante no Brasil do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF